5 dicas para escritores com depressão

Aléxia Borgonovo Hetka
4 min readJun 8, 2018
Criar quando se está deprimido é especialmente desafiador. Veja dicas que podem facilitar o processo.

Como criadores, a maioria de nós busca dicas e conselhos de pessoas experientes na área, e depois de ver algumas delas repetidas várias vezes, a tomamos como regra. Mas escrever é uma experiência diferente para cada pessoa; e quando se tem depressão, pode ser especialmente desafiador. Essa condição atrapalha nosso desempenho em basicamente todos os passos pelos quais sentimos que devemos passar obter sucesso nessa carreira — afinal, queremos seguir os passos exatos de quem obteve êxito. Mas dia desses eu usei a metáfora da escrita de uma história como a construção de uma casa. E bem, se cada casa é diferente da outra, é claro que os processos também serão diferentes, com diferentes níveis de dificuldade, tempo de execução e resultados. O que importa é que o produto final seja algo que você goste. Por isso, separei algumas dicas sobre a minha experiência que me ajudam a manter a “chama acesa”:

1. Liberte-se da pressão de escrever todo dia

A primeira dica em artigos para escritores sempre é “escreva todo dia” — muitas vezes até atrelada a um número mínimo de palavras ou horas a serem dedicadas a isso. Como sou curiosa e gosto de pesquisar sobre assuntos que me interessam até a exaustão, não demorou para que eu visse isso como uma regra inquebrável. E claro, por consequência, não demorou para que eu me decepcionasse comigo mesma quando passava dias sem escrever uma só palavra. Mas quem sofre de doenças mentais sabe que deixar de fazer coisas (mesmo coisas que queremos fazer, gostamos de fazer e programamos fazer) foge do nosso controle. E no momento em que eu aceitei que não, não era estritamente necessário que eu escrevesse todo santo dia para que fosse uma boa escritora, senti um grande peso sair dos ombros. É claro que quem escreve todo dia vai evoluir mais rápido, porque a escrita é uma arte de prática, mas pra nós, tem dias que acordar e sair da cama já é vitória o bastante. Por isso, perdoe a si mesmo se passar um dia inteiro (ou mais) sem sequer tocar no caderno. Se você só pensar na sua história já estará fazendo algo por ela. Assim que se sentir melhor, vá testando aos poucos voltar a escrever.

2. Priorize sua saúde

Essa dica anda junto da primeira, mas é bom você parar e analisar se sua saúde está sendo levada em conta pra daí partir para a escrita. Escrever pode ser para você algo que te traz paz e boas energias, porém, a partir do momento que você não consegue cumprir metas que estabeleceu para si mesmo (“já devia ter terminado esse capítulo”, “nesse mês meu livro já deveria estar sendo publicado”, “prometi a mim mesma uma hora escrevendo hoje”), essa cobrança vira algo negativo e é muito provável que você caia naquele famoso loop de pensamentos ruins do qual é tão difícil sair depois.

Se você não está num bom momento e pensa como gostaria de estar escrevendo e como isso podia lhe ajudar, arrisque e pegue o caderno (foi assim que comecei a escrever esse post!). Mas se a linha de pensamento é “eu me sentiria melhor se meu livro estivesse fazendo sucesso” ou “a solução seria eu escrever x palavras por dia”, tente mudar essas prioridades. Não podemos nos comprometer a algo que não temos certeza que vamos conseguir. É como marcar uma corrida com um amigo para dali a uns dias mesmo tendo um pé machucado e não sabendo como ele estará no dia.

3. Encontre outras formas de produzir

Engana-se quem acha que a única maneira de um escritor ser produtivo é somando palavras ao número no canto do Word. Como boa planejadora de histórias, gosto de usar de diferentes recursos para que meu livro evolua mesmo sem estar propriamente o escrevendo. Uma das maneiras mais legais de fazer isso é escrever para um blog, seja um próprio seu ou como convidado em outros. Você também pode usar de recursos como artigos sobre escrita, Pinterest, músicas, palestras inspiradoras no Youtube ou cursos online que te ajudem a manter a mente ativa.

4. Leia!

Outra coisa simples que pode ser muito difícil para quem tem depressão, mas que vale muito a pena. Você provavelmente compartilha do anseio de não conseguir mais ler como antigamente e talvez nem se lembre qual foi o último livro que leu até o final. Então, que tal começar com pouco? Tente ler uma só página. Ou um só parágrafo, que seja. Se não quiser se prender a uma história, tente um artigo na internet. Ler é uma forma excelente de exercitar o músculo da escrita, ou pelo menos te preparar para esse momento — tipo ter uma refeição balanceada e dar uma boa alongada antes de sair para uma corrida (muitas metáforas de corrida para alguém que odeia fazer isso).

5. Pequenos passos

É normal que quando a gente comece a se sentir melhor sinta vontade de “compensar” o que deixamos de produzir e estabeleça metas inalcançáveis para isso — caindo novamente na decepção e auto-crítica perante a falha. Tente pensar que se você escrever uma só palavra hoje, já terá sido uma evolução. Um post que vi sobre o assunto e com o qual me identifiquei muito foi o de uma autora dizendo que se comprometia a escrever 200 palavras por dia (não sendo as 3 páginas ou 2 mil palavras que uns especialistas ordenam por aí já tira bastante da pressão, né?), e que para ela, elas representam 200 dedos-do-meio para a sua depressão. Use cada palavra como luta, ou cada uma como uma mensagem de que você está aqui e sua história ainda vive. Como disse Henrique Lira: “Melhore 1% a cada dia e em um ano você terá evoluído 365%.”

Você tem alguma dica também?

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