Sobre igualar a violência usada tanto por fascistas quanto por antifascistas.

Aléxia Borgonovo Hetka
2 min readJun 5, 2020
Foto de Sides Imagery no Pexels

Para começar, a escala de violência não é a mesma, muito menos a motivação — antifascistas visam lutar contra o crescimento do fascismo, enquanto esse tem motivações verdadeiramente genocidas. Mas muitos argumentam que não deve haver violência alguma, que não há espaço para violência na política (e então criticam antifascistas que não excluem a possibilidade de usar violência como tática política).

O problema é que a violência é uma parte vital da política. Política é a distribuição de poder; e poder é estabelecido com violência (ou pelo menos a ameaça dela). A polícia e exército são forças que usam violência a serviço do liberalismo. Fronteiras implicam a necessidade de violência para sua manutenção. O capitalismo usa a ameaça de despejo e o desejo de evitar a pobreza para motivar você a continuar trabalhando.

Toda ideologia política legitima violência contra alguém. Isso é a política.

É claro que isso não significa que toda violência usada em nome do antifascismo é boa — apenas que as duas violências não são equivalentes. Ademais, o argumento de uso de violência para deslegitimar a luta não é o bastante. Se o fascismo e antifascismo são equivalentes por usar violência, então TODA posição política é equivalente. Quando você critica o uso de violência por antifascistas, essencialmente está dizendo que acha que o governo deveria manter seu monopólio sobre a violência (monopólio esse que, sejamos honestos, só beneficia os ricos e os fascistas).

A diferença é contra quem a violência está sendo feita e por quê.

Pense na seguinte situação: se um grupo antifascista está protestando violentamente contra a posição fascista de uma empresa, por exemplo, a empresa pode se retratar, demitir os envolvidos, promover mudanças internas, mudar sua postura pública, ou simplesmente parar de engajar em protestos fascistas. Alguns antifascistas inclusive se dispõem a oferecer serviços que os removam dessa ideologia para que todos possam seguir em frente.

Mas e se um fascista está indo atacar um negro? Uma lésbica? Um judeu? A única coisa que essa pessoa poderia fazer para satisfazer sua ideologia seria deixar de existir.

O fascista pode escolher conceder, e então ver o fim dessa violência. Os grupos odiados por ele, não.

O antifascismo visa impedir com que o fascismo continue crescendo. Se você está fazendo parte disso, se suas ideologias pessoais, seu trabalho ou qualquer ação sua está contribuindo para o fortalecimento do fascismo, você tem a opção de parar de fazer isso, de forma não violenta. Se você é inimigo político dos antifascistas, pode mudar de ideia e virar amigável ao movimento (ou simplesmente deixar de seguir o fascista).

Se você é inimigo político do fascismo, tem duas opções: ou o fascismo perde, ou você morre.

(Esse texto foi adaptado a partir de uma parte do vídeo “The Philosophy of Antifa”, com tradução e interpretação minha).

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