é hora de o vaso quebrar.
para fins dessa alegoria, me imaginei como um vaso. não um aquário, pois não sou tão transparente, não uma jarra pois não sou tão bem esculpida – talvez um vaso torto e confuso feito por um amador (mas que ainda conta como arte).
um vaso cheio d’água porque é como vejo minha alma, meu calor, minha paixão. é o que me dá vida.
também não é jarra porque não quero simplesmente derramar a água de forma graciosa e com calma. não é algum vaso que possa rachar e deixar cair pingos, não. ele tem que explodir de uma vez só.
está árido aqui fora e chega a ser irresponsável da minha parte querer continuar com toda a água só para mim.
eu já deixei cair pingos e meu erro foi querer recolhe-los de volta. ou então achar que não tinha sobrado água aqui dentro. mas ah se sobrou, e agora, anseio pelo momento em que vou acumular tanta que a estrutura não vai ter opção senão ceder.
venho fortalecendo essa estrutura, também, pra não deixar que mais água saísse. reforçando-a com ferros e pilares e transformando-a numa prisão de segurança máxima. mas chegou o momento do golpe de estado.
e tem outra: não dá pra botar mais água num vaso já cheio. tem que derrubar, expelir tudo pra dar espaço pra mais.
nada na natureza é constante. sabe o que é constante? aquilo que é construído pelo homem. estudado e aperfeiçoado por anos para que não traga surpresas. mas eu não sou feita de homem, sou feita de terra. nunca poderia ser constante; estaria traindo minha própria natureza (literalmente).
vou quebrar e ver, finalmente, que isso é a vitória e não o fracasso. o que mais tem por aí é barro, cola e materiais para me reconstruir. e água, água de monte pra me encher de volta.
(no momento meu estado está em racionamento de água, mas o ignoro para não estragar minha analogia).